Conteúdo e beleza em vez de consumo. Na performance de Mara Mac, dirigida por Bia Lessa no Rio Moda Rio, moda e teatro se unem para pensar num lindo cenário de folhas secas colhidas durante três fins de semana no Jardim Botânico. Na boca de cena, uma cascata de letras derrama a frase: E assim viveremos. Vogais e consoantes se fundem como se fossem formar novas frases e contar novas histórias.

"O universo é uma grande biblioteca, uma grande literatura que não cessa de se refazer, não cessa de se reescrever", diz o físico Luiz Alberto Oliveira, curador do Museu do Amanhã, mestre de cerimônias e narrador de um enredo que toca de muitas formas. Na nudez das performers. Na união das modelos, da estilista e de sua equipe em ação juntas no palco. E principalmente na fala das manequins, que em geral apenas desfilam caladas. 

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Em clima quase religioso, numa espécie de liturgia numérica, as cifras citadas em sequência dão ritmo à trilha sonora. Quantos jornais publicados naquele dia, quantas pessoas morreram, quantas nasceram... No ciclo do recontar, livros nas mãos, as meninas-modelos encontram na poesia um jeito de brincar e de se balançar nas alturas. 

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Antes do desfile começar Mara Mac conta o segredo de inovar sempre: "gostar do que se faz, amar o seu trabalho." Tensa mas sempre alerta, ela observa Max Weber maquiar uma modelo. Em princípio aprova mas observa, quero que faça um rabo mais firme. Risos rápidos, e lá vai a equipe de beleza garantir o penteado.

Na adrenalina e na expectativa de que tudo dê certo: escavadeira na passarela, três participantes nuas, uma tonelada de folhas secas, Vera Ricci, braço direito da Mara, lembra com humor que Bia Lessa é precisa quando pensa nos ingredientes da cena. "Em junho de 2008, num desfile sobre o fundo do mar, ela pediu 2000 peixes. Nem mais nem menos. Contratei um veterinário para tomar conta deles para não ter problema com a Sociedade Protetora dos Animais. E na hora de viajar com o desfile para outras cidades, levando tonéis lacrados de peixes!?", ri.

A performance



Mara não lembra há quanto tempo existe a marca: "cinquenta e tantos anos que eu não sei quantos". Gaúcha de Santana do Livramento, é direta nas respostas e não gosta muito de falar sobre si própria. "Não sou nenhum pouco egoica". Nesse momento do país qual é o seu sentimento? "Sinto esperança por melhores dias". "Está tudo certo com as cadeiras?", pergunta a alguém da equipe. 

'Tenho a família Mara Mac'


Além da moda, o que lhe dá prazer? "Boa música, um jazz maravilhoso, um teatro maravilhoso, meus netos, que são minha maior alegria. São lindos, Miguel e Antonio (abre um sorriso). Eu não tenho mais quase nada, meu marido foi-se, minha mãe foi-se, meu pai foi-se, meu filho ficou e me deu esse legado. Tenho a família Mara Mac".

Fotos: Marcelo Soubhia/ Fotosite e Marcelo Correa (portrait da Mara Mac)











 

 

 

 

 

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