Como degustar um bom vinho numa nave interplanetária a caminho da lua ou de marte? Qual a maneira mais confortável de se reunir e de conversar com os amigos numa cápsula flutuando no espaço? Nos últimos dois anos o designer Octave de Gaulle vem buscando as respostas para essas perguntas. O resultado de seus estudos e experimentos pode ser visto até abril de 2016 na exposição "Civilizando o espaço" no Museu das Artes Decorativas e do Design em Bordeaux, na França. Entre as criações do designer, está uma garrafa de vinho, para ser degustada em bolhas. 

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O sobrenome já diz: sim, Octave é parente de Charles de Gaulle. "Meu bisavô era irmão dele", diz. Para o designer, chegou a hora de pensar nas viagens espaciais sob o ponto de vista do conforto e do design. "A aventura espacial inicialmente foi militar", lembra, "depois, científica, e agora com as viagens interplanetárias turísticas e a expedição a outros planetas como Marte, o contexto é favorável a uma aventura civil."

Degustando o vinho em bolhas

Segundo Octave, é o momento de pensar nos turistas e nas pessoas que vão morar no espaço. "Temos assim as condições para mudarmos as regras do design, que precisam ser revistas quando não existe gravidade, em condições totalmente diferentes das que encontramos na Terra". Para degustar um vinho, sentindo seu sabor e seu aroma, Octave bolou dois objetos, uma garrafa em formato circular, de onde, num ambiente sem gravidade, o líquido sai em bolhas e uma haste capaz de capturá-las.

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"Beber uma garrafa de vinho na terra é diferente de tomá-la num espaço sem gravidade. Como fazer uma garrafa que permita, nessa situação, sentir o aroma do vinho. Como recriar o ato de beber vinho com todas as suas sensações num ambiente desses. Depois de observar as novas regras dos líquidos no espaço, desenvolvi esses dois objetos para conseguir isso: um recipiente, que permite que o vinho saia em forma de bolha e outro para pegar essa bolha". Dá uma olhada no vídeo:



Parceria com a NASA francesa

O designer realizou sua ideia com imaginação e rigor científico. Para isso contou com a parceria do CNES, a NASA francesa, o Centro Nacional de Estudos Espaciais, onde conversou com astronautas, entre eles Jean-François Clervoy, hoje presidente do CNES. "Foi ele que levou a garrafa para testar num vôo de avião", diz Octave, que testou a primeira garrafa num aquário com óleo e água para ver se funcionava. 

Nos primeiros testes lançou a garrafa num foguete do alto do prédio

Antes disso, entretanto, ele partiu para sua própria conquista espacial em casa. "Construí um pequeno foguete e dentro dele coloquei a garrafa. Lancei o foguete primeiro do oitavo andar do meu prédio, depois do décimo andar e finalmente de falésias (rochedos à beira do mar)", conta o designer, que acaba de fundar uma agência para criar objetos para o espaço. "Várias grande marcas de champanhe estão interessadas", garante.

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Octave está expondo também o resultado de seus estudos para criar o interior de uma estação espacial. "Reconstruí um ambiente com materiais ergonômicos que permitem uma aproximação mais suave do corpo humano", afirma.

Ele começou a pesquisa levantando a memória humana sobre o espaço. Reuniu um material riquíssimo sobre a aventural espacial, que está exposto no museu. Durante a visita, o público descobre fatos, sonhos, objetos e literatura que serviram de base para todo o trabalho.

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De Tintin aos primeiros estudos sobre conforto feitos pela NASA

Entre as curiosidades, está a história do primeiro míssil balístico, o alemão V2, lançado pela Alemanha contra os ingleses na etapa final da Segunda Guerra, a viagem imaginária de Tintin, na famosa história em quadrinhos "On a marché sur la Lune" (Nós andamos na Lua). As primeiras considerações feitas sobre conforto podem ser encontradas em três desenhos originais do desenhista industrial Raymond Loewy (1893-1986). Os croquis foram feitos em 1968 como parte de um estudo para a NASA.

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Desenhos de Konstantin Tsiolkovsky (1857-1935), o brilhante pai da aeronáutica russa, descrevem a preparação para o filme "The Cosmic Journey" (A viagem cósmica), realizado em 1936 por Vasili Zuravlev. Fã de "2001, uma odisseia no espaço" (1968), de Stanley Kubrick, e de "Sunshine: alerta solar" (2007), de Danny Boyle, ele se inspirou em todo esse imaginário para o projeto.

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"O espaço
 existe na ciência e na ficção. Ele é Meliès (Georges Meliès, precursor do cinema nos anos 30) e Armstrong (Neil Armstrong, primeiro astronauta a pisar na lua em 1969). Os dois são importantes para formar nosso imaginário, que acaba sendo mais importante do que a realidade. Nesse trabalho quis projetar a fantasia terrestre no espaço. Para mim, é importante projetar a cultura humana no espaço. É preciso levar a Terra para sobreviver lá fora", explica Octave, que não tem vontade de ir para Marte. "Fico satisfeito em ir até a órbita da Terra e ver tudo lá de cima. Ainda tenho muita coisa para fazer aqui".

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O interesse pelo design no espaço surgiu tardiamente para Octave. "Foi quando estudei no Politécnico de Milão e tive que criar uma luminária que se parecesse com um objeto para ser usado no espaço", conta Octave, que no momento está desenvolvendo uma calça. "No espaço, usamos pouco as pernas e elas têm uma tendência a atrofiar. Estou estudando uma calça que estimule os músculos das pernas para que elas continuem sendo úteis".

 

 

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